sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Produzir, Lucrar e Intoxicar



Foto retirada: httpam730.com.brbrasil-e-negligente-no-controle-de-agrotoxicos-2

A indústria química é uma das que mais lucraram nos últimos anos, este fato se deve a ampliação da produção e venda de agrotóxicos ou defensivos agrícolas, outra denominação do veneno utilizado nas lavouras.

O ritmo acelerado do desenvolvimento da agricultura no planeta teve seu início na revolução verde em meados do século 20. Esse período ficou marcado pela intensa modernização da agricultura, desde a criação de agrotóxicos, sementes híbridas e a mecanização do campo, substituindo a mão de obra humana pelas máquinas.

Aos poucos, os agricultores foram seduzidos por sementes milagrosas resistentes a pragas e aos agentes climáticos e também pelos tóxicos, fórmulas milagrosas que imunizam a lavoura contra insetos, ervas daninhas, moluscos e outros indivíduos. A utilização de sementes transgênicas foi aos poucos extinguindo as sementes crioulas ou selvagens, aquelas produzidas por meios naturais, pois devido a aditivos químicos e as mudanças na estrutura genética acabaram tornando-se mais resistentes e, consequentemente, mais aptas ao meio.

 Outro fator que contribuiu para a degradação da biodiversidade natural foi o desenvolvimento da monocultura, quando apenas uma cultura é plantada em toda extensão de terra, exemplo claro disto é a plantação de soja. Esta atividade acaba empobrecendo o solo ao longo dos anos, pois antes desse método ser largamente utilizado era comum fazer a rotatividade de culturas, ou seja, plantar diferentes gêneros agrícolas ao longo do ano, fato que contribui para o enriquecimento do solo.

A modificação das sementes, aplicação de agrotóxicos e insumos agrícolas aumentam a produtividade, ou seja, o agricultor produz mais em menos tempo, aumentando assim os lucros. Em contrapartida, o uso dos tóxicos gera resíduos, tanto no meio ambiente, como no ser humano que consome o produto. Aqueles que trabalham diretamente na produção, transporte e venda de produtos com agrotóxicos, sofrem os efeitos mais imediatos como as contaminações agudas, podendo causar intoxicações graves. Mas sofrem também com o problema crônico, o efeito em longo prazo e, assim como nós, os consumidores, acabam acumulando ao longo dos anos os tóxicos em nossos organismos.

Mas quais consequências a manipulação e o consumo dos agrotóxicos trazem ao nosso corpo? Os índices de câncer crescem vertiginosamente ao longo dos anos, este fato está intimamente ligado aos níveis de defensivos agrícolas em nossos organismos. Os problemas de fígado e outras patologias como problemas respiratórios e até mesmo a infertilidade podem ser considerados frutos daquilo que consumimos.
Como pesar os prós e os contras da utilização de agrotóxicos nas nossas lavouras? É tão importante produzir a todo custo, contaminando o meio natural e matando aqueles que consomem os produtos contaminados? Por que o Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do planeta? 

É importante, para você que vive no Brasil, ficar sabendo que você consome indiretamente em média 5,2 litros de agrotóxicos por ano e que as frutas e verduras que você compra na feira são tratados com substâncias proibidas em outros países, mas que são usados no Brasil sem problema algum. Revelam dados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), que os gêneros alimentícios comercializados no Brasil são muitas vezes tratados com quantidades de agrotóxicos acima do nível permitido por lei. Assustadoramente, o crescimento do uso de agrotóxicos no território brasileironos últimos 10 anos foi de 190%, enquanto o crescimento no resto do mundo foi de 93%.

A bancada ruralista do nosso senado defende claramente a utilização de tóxicos na agricultura, o principal argumento dos parlamentares é que se os agrotóxicos não fossem utilizados a produção de alimentos seria insuficiente para abastecer o mercado nacional e para a exportação, mas eles esquecem que a atividade agroecológica é uma alternativa eficaz para a produção de alimentos orgânicos e saudáveis. Mesmo que não usemos da agroecologia como meio principal de produção de alimentos, os investimentos na produção de alimentos orgânicos, através do estímulo ao crédito para o pequeno agricultor e agricultura familiar, contribuiriam de forma significativa para a diminuição do uso de agrotóxicos.

Cabe a nós consumidores protestarmos sobre o uso abusivo de agrotóxicos em nossos alimentos e questionarmos o porquê de que no Brasil são usadas substâncias proibidas em outros países. Cabe também aos nossos parlamentares refletirem sobre alternativas para a produção de alimentos mais saudáveis, o que me parece bastante difícil, pois muito deles estão ligados diretamente às grandes empresas produtoras de agrotóxicos e encontram no Brasil uma grande oportunidade de lucrar, já que a fiscalização é falha e o poder, ou melhor dizendo, o interesse do brasileiro em questionar a sua realidade é quase nulo, e então seguimos em um ritmo assustador, em que produzimos, lucramos e nos intoxicamos.

Quer saber mais? 

Assista: Veneno está na mesa, de Silvio Tendler;
Leia: Paraíso dos Agrotóxicos, Substâncias já proibidas em vários países encontram mercado fértil em terras brasileiras. Ciência Hoje. Vol. 296.


Iúri A.

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